Coluna – Psicologia

JOÃO ANASTÁCIO RUFINO

PSICÓLOGO CLÍNICO

Crp: 05/56453

“Não desista do amor , não desista de amar “

A VIDA: UM APRENDIZADO CONSTANTE.

anodajuventude@hotmail.com

“GOTAS  DE   REFLEXÃO” 

O DESAFIO DE SE RELACIONAR

OS SABOTADORES NA COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

João Anastácio Rufino

Vivemos em um tempo em que o desafio das relações interpessoais maduras, autênticas e sinceras e com uma capacidade de tolerância diante do outro é um desafio. Percebemos e somos interpelados constantemente por situações que nos deixam perplexos, basta lembrar casos de racismo, violências nas escolas!… Nesta semana em Santa Catarina, ocorreu um fato que chocou o país, referente à morte de quatro crianças na creche e todo dia nos deparamos com relatos de situações de balas perdidas, mortes por divergências políticas e todo dia as relações se tornam mais frágeis e não podemos deixar de mencionar a situação de cada um com os seus desafios.

​Partindo do livro, O Segredo da Comunicação Interpessoal, gostaria de refletir sobre como na vida agimos para sermos aceitos e acolhidos pelos outros. Constantemente, para nos sentirmos aceitos e amados vivemos experiências de sabotarmos a nós mesmos: respondemos mais ao que o outro espera da gente, do que realmente gostaríamos de fazer. Não é fácil vivermos de forma autêntica e livre, senhores de si mesmo diante de tantos desafios!

Nas relações interpessoais geralmente procuramos dá respostas a três grandes angústias que vivemos. A primeira se traduz a partir do sentimento de medo de que a pessoa invada o nosso “território”, ou seja, a nossa intimidade, os nossos segredos, temos medo muitas vezes, que o outro nos conheça como somos, pois, podemos sofrer a rejeição de não nos sentirmos amados. Um segundo aspecto, podemos dizer que carregamos conosco o que chamamos de uma ferida narcisista ligada à imagem que tenho de mim mesmo, ou seja, a dor sofrida na minha história, eu  não quero repetir e para que isto não ocorra o ser humano se protege, gerando mecanismo de defesa que transparece com uma estima muito alta de si mesmo e implacável com o outro, ou o contrário, isto é, uma estima muito baixa, se tornando muitas vezes, subserviente ao outro, não omitindo a opinião e sendo capaz de engolir tantas coisas que não ajuda para a saúde mental e física. O terceiro aspecto está relacionado como o outro vai reagir diante de uma colocação autêntica e sincera: a pessoa carrega consigo o temor de uma perseguição futura, seja no ambiente de trabalho, nas relações amorosas, familiar e no convívio social; geralmente ser a gente mesmo incomoda muito quem está ao nosso redor e muitas vezes não estamos com disposição interior para enfrentar os deságios.

​Para o convívio, a gente acaba gerando dentro de nós alguns sabotadores que se tornam forças criativas e destrutivas consigo mesmo e nas relações interpessoais. Os sabotadores emocionais provocam comportamentos que não contribuem para o nosso crescimento e para aquilo que fomos chamados para sermos felizes.

Os principais sabotadores das nossas relações interpessoais de forma bem generalizadas são a autoprivação, o ressentimento, o ciúme, o sentir culpado, o julgamento, a comparação, a projeção, a apropriação. Abordarem de forma suscita cada um a seguir.

A autoprivação consiste muitas vezes na nossa dificuldade de expressar o quanto queremos ser amado, querido, aceito no grupo. Expressões comuns desta realidade usado por nós no cotidiano são “Eu gostaria de ser compreendido sem precisar recorrer à palavra”, ou muitas vezes acabamos por privar de descanso, por causa do outro e não me apropriando do tempo de descansar”. Importante ressaltar que o sentimento de privação está ligado à expectativa, ou seja, eu faço algo na esperança de obter algo que muitas vezes não é correspondido e daí racionalizamos com afirmações tais como: “preciso de ternura, mas não peço; não seria válido. Espero que ela venha a mim”. Às vezes, ocorrem quando precisamos tomar decisões para a vida e muitas ocasiões por não ousar sair de meus medos, eu não entrei no imprevisível, privei-me de algo possível. Podemos dizer que muitas vezes a privação não está no que me falta, mas na ignorância de tudo o que tenho. Eu acabo não dando valor realmente ao que verdadeiramente pode preencher o meu vazio.

​O ressentimento é um elemento que nos faz ficar preso ao passado, constantemente volta a nossa mente, queremos vingar, fico remoendo, querendo que a pessoa pague por aquilo que me fez. O ressentimento rompe as cadeias das relações, olho o outro como potencial para minha vingança e me deleito com o seu fracasso. Podemos considerar que o ressentimento surge quando eu não aceito que meus desejos não foram realizados, daquilo que eu disse e não foi entendido, de que minhas expectativas foram a causa de minha decepção, de meus projetos foram contrariados ou adiados, de que a vida não se ajusta à minha visão. Ressentimento parte de que as coisas não saíram como eu desejava e por isto fico fixo naquela realidade.

​O ciúme destrói as relações porque muitas vezes ele não vem sozinho, é carregado com violência verbal e física, além disto, destrói e contorce as relações. Está mais no imaginário do ciumento e muitas vezes inflado pelo mesmo. O ciúme não é apenas nas relações entre casais, diversas outras relações provocam ciúmes, tais como o ciúme fraterno, paterno e materno, o ciúme entre amigos, nas relações de trabalho, nos ambientes religiosos e todos eles criam situações que podem levar a destruição de si e do outro.

​Outro sabotador da nossa vida é a questão da culpa, ela provoca uma sensação de confusão de sentimentos, traz consigo uma mistura de medos, desvalorização, ambivalência e necessidade de poder e autoafirmação, além de constantemente uma racionalização, ela cria angústia, barganhas nas relações. As pessoas com uma estima baixa de si, constantemente, se sentem culpadas, às vezes, se culpam até quando nem estão presente em determinada situação.

Quer destruir uma boa comunicação entre as pessoas? Basta começar a fazer o julgamento. Só conseguimos compreender o outro se reduzimos e suspendemos nosso sistema de valores e nossas crenças pessoais em relação a pessoa que está diante de nós, caso contrário não se consegue estabelecer uma boa sintonia.

Comparar com o outro serve para fazermos julgamentos ou nos sentir culpado. A comparação geralmente fazemos na ótica de diminuir alguém e isto não contribui para gerarmos uma boa relação interpessoal.

A projeção constitui que transformo o outro em tela da minha vida, isto é, vejo nos outros aqueles elementos, realidades, situações da minha vida que muitas vezes gostaria de ignorar e acabo ignorando o outro. Geralmente projeto no outro os meus sonhos, ideais, minhas intenções, ilusões, sentimentos e muitas vezes aspectos inconscientes que aparecem. Quantas vezes dizemos: “não gosto de fulano, porque ele é arrogante” e na verdade pode ser apenas uma projeção minha.

Por fim a apropriação, isto é, eu me aproprio e aceito para mim o que a outra pessoa fala de mim, e nem me questiono a sua veracidade.  Para evitar conflitos, eu acolho para mim o que dizem de mim e com o tempo me aproprio para mim como se fizesse parte de mim.

Estes são alguns sabotadores que permeiam a nossa relação interpessoal. Que tal refletirmos quais são os sabotadores que estão conduzindo e ganhando força dentro de mim… Vale a pena refletir e na medida em que tomamos consciência somos capazes de nos apropriarmos cada vez mais de nós mesmos, pois sabemos que só a verdade liberta.

Referência Bibliográfica

Salomé, Jacques. Galland, Sylvie. O Segredo da Comunicação Interpessoal. São Paulo: Loyola, 1999.

João Anastácio Rufino

Psicólogo graduado pela Universidade Estácio de Sá – Macaé- RJ, Pós-graduado em Psicanalise Universidade Faveni. Pós-graduado em Saúde Mental – Universidade Estácio de Sá e Pós-graduando em Psicodiagnóstico e Transtorno do espectro Autismo – Universidade FARMAT.

CRP: 56453/05

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